terça-feira, 13 de março de 2007

Conte contigo.

Uma cena de BELEZA AMERICANA me impressionou particularmente. O filme todo me fascinou, aliás. Tenho que vê-lo de novo. Acho sublime, comovedora aquela busca desesperada e vã do homem pela juventude perdida. Mandar para o lixo a carreira bem-comportada depois de uma conversa franca com o chefe dilbertiano e ir trabalhar numa lanchonete, sem metas e cobranças que fossem além de entregar com um sorriso o hambúrguer para o freguês. Comprar um carrão imprestável lindo de 20 anos atrás apenas para realizar um sonho que ficara lá longe num mundo que se perdera. E correr atrás de uma garota como se fosse, ele próprio, um garoto, e não um homem vencido pelo correr dos dias. Braços remando contra a correnteza, como escreveu Fitsgerald no final de Gatsby. Somos condenados a remar contra a correnteza, e só não encerro esta digressão aqui porque me ocorre uma frase cortante como a espada de MUSACHI, o maior dos samurais: o tempo nos tira as certezas que temos na juventude e, ao perdê-las, vai com elas uma ousadia petulente que é a maior das maldades do tempo, ainda que as certezas fossem, todas elas erradas. Mas era sobre a cena da primeira sentença que eu queria falar. A mãe frustada, que imagina encontrar a resposta para um casamento miserável nos braços de um amante engomado, diz para a filha depois de uma briga conjugal que terminou com pratos lançados na parede: "Você aprendeu a maior de todas as lições. Você aprendeu que tem que contar apenas com você mesma". Temos que contar com nós mesmos, e no entanto quase sempre depositamos nossa felicidade (ou nossa infelicidade) nos outros. Ninguém pode nos ajudar se nós próprios não nos ajudamos. Ninguém mesmo: nem a mãe, o pai, o amigo, o irmão, a namorada ou a mulher. Ninguém. Vivemos num mundo em que a solidão é tratada como um anátema um estigma, um mal a evitar. Um grande homem da Roma Antiga disse que jamais estava menos só do que quando estava só, entregue as reflexões. E no entanto poucas coisas nos enchem de tamanho horror quanto a solidão. É porque não contamos com nós mesmos - estamos sempre fugindo de nós mesmos. A única coisa que temos sob controle somos nós. Nossa mente e nossas ações.